HD #002 – Eu sou um profissional do futuro?

Categories: Futuro do Trabalho, Profissional do Futuro

Olá!

Seja bem-vindo à segunda edição da minha nova newsletter Horizonte Digital. Aqui vamos discutir tecnologias emergentes, teorias, novas perspectivas e tendências que impactam hoje e o futuro da sociedade digital.

Nesta edição, em tom de crônica, falo um pouco dos meus aprendizados de carreira, futuro do trabalho e como isso impacta a nossa evolução como profissionais.

Eu sou um profissional do futuro?

O ano era 1997, e no auge dos meus 12 anos sem nada pra fazer durante as tardes, atendo o telefone lá de casa:

_Alô!

_Você acaba de ganhar, inteiramente grátis, uma bolsa de estudos para o curso de Informática da Escola de Multimídia! Você aprenderá Excel, Word, Power Point e também um módulo adicional de CorelDraw!

_ Nossa, que legal! E como eu faço pra me inscrever?

_Basta comparecer em uma de nossas unidades com seus pais ou responsáveis para a inscrição e compra do material didático, que não está incluso nessa promoção.

Observação: Nessa época era bem comum ganhar uma “bolsa de estudos” onde se pagava apenas o material(que era uma apostila), no valor de um curso. O golpe sempre esteve aí, não foi mérito do marketing digital (hihihi brinks).

E lá fui eu convencer meus avós a pagar esse curso, tirar dinheiro de onde não tinha, pagar parcelado, porque estaria aprendendo as habilidades do futuro.

Afinal, eu era o neto que sabia programar o videocassete, abrir e consertar as máquinas. Eu tinha um futuro brilhante na informática, pois levava jeito pra coisa.

Obviamente não arrumei emprego, afinal tinha 12 anos, e nem virei freelancer pois nem computador em casa eu tinha. Acabei virando aquele famoso sobrinho que sabe fazer umas coisas no computador e arrumei uns trocados.

Hoje, 27 anos depois, estou aqui no Linkedin escrevendo sobre como se tornar o profissional do futuro, das habilidades técnicas, ferramentas e soft skills desse tal profissional. Ainda produzi um podcast com esse mesmo nome e entrevistei mais de 20 pessoas sobre esse tema.

A verdade é que o futuro é sempre algo à frente do presente, por definição. Logo, nunca chegaremos a sê-lo de verdade. A não ser que a viagem no tempo seja possível, mas isso é outro papo.

O que então mudou nesses últimos 30 anos, para que o tal do profissional do futuro não seja o mesmo de 1997? Porque não temos mais que fazer curso de informática para ficarmos à frente dos colegas?

Percebo que muitas das coisas, que antes eram necessidades técnicas, acabaram se tornando apenas habilidades. Logo não veremos mais vagas de analista exigindo pacote office ou digitação. Talvez um Excel avançado… pois como você efetuará análise sem o auxílio de dados ou planilhas?

Da mesma forma, em pouco tempo, uma das profissões quem eram consideradas do futuro, como Engenheiro de Prompt, será apenas mais uma habilidade: saber trabalhar com assistentes virtuais ou agentes de IA.

Preciso fazer mea-culpa e dizer que também cai nesse conto do Engenheiro de Prompt ser uma profissão do futuro, como vocês podem ver nesse post que fiz em fev-2023.

Meu ponto é que a cada época teremos o software da moda, a ferramenta que todos precisam aprender ou a mais nova IA que irá revolucionar o mercado.

Diante disso, quem é então esse tal de profissional do futuro? Do que eu preciso saber para ser considerado como tal?

Essa é toda a questão: o profissional do futuro não precisa saber, ele precisa ser.

É muito mais uma questão de atitude do que de competências ou habilidades. Tais atitudes são treináveis e que podemos adquirir ao longo da nossa vida.

Gosto de enquadrar essas atitudes do profissional do futuro em 3 grandes conjuntos: adaptabilidade, visão probabilística e criatividade. Parece que eu falei de habilidades e não de atitudes, mas habilidade é o saber fazer e a atitude é o querer fazer.

Logo, o profissional do futuro não apenas sabe ser adaptável mas ele o quer e o executa sempre que necessário.

Vamos entender um por um:

  1. Adaptabilidade: tem a postura de eterno aprendiz, não se furta em entender como um ferramenta funciona ou como aquele sistema lhe pode ser útil. Não fica preso aos sistemas legados ou do passado, caso uma ferramenta nova se mostre melhor. Tem uma curva de aprendizado muito menor e mais veloz que os demais, entende as necessidades do presente e sabe ler os contextos em que está inserido.
  2. Visão Probabilística: essa você não deve ter visto em nenhum lugar, mas ao longo da minha carreira vi muitas pessoas fazendo apostas erradas e dando all in (quando você coloca todas as fichas na mesa, no poker) em empreendimentos que dificilmente seriam vantajosos. Mas exercitar essa visão não é fácil, pois a nossa tendência inata é ser determinístico, certo ou errado, sim ou não. O profissional do futuro entende que tudo é uma probabilidade, que vivemos um espectro de probabilidades e que o futuro é incerto. Creio que preciso de um artigo apenas para explicar esse ponto.
  3. Criatividade: a tal de criatividade na resolução de problemas, não aquela artística (que também resolve um problema), mas aquela que acha uma possível solução não óbvia ou até uma óbvia que ninguém estava vendo. O profissional do futuro é aquele que sabe e gosta de resolver problemas, pois no final das contas entende é pra isso que estamos empregados, somos consultores ou ajudamos alguém. Pra desenvolver essa criatividade, exige um G forte de Generalismo, de se envolver em assuntos fora da sua área principal de atuação e saber conectar essas outras áreas. O criativo é um conector de conhecimentos e possibilidades.

Fica a pergunta: estou sendo esse profissional do futuro hoje? Sei ler contextos, me adapto à eles, penso em probabilidades e não coloco toda as minhas fichas em um mão só (ou não coloco todos os ovos na mesma cesta como diria o ditado popular).

Além disso, procuro e gosto de resolver problemas e os desafios que surgem, fazendo conexões não óbvias entre duas áreas de conhecimento diferentes?

Sou eu, um profissional do futuro?

P.S: Sei que ainda existem vagas pedindo pacote office em muitos lugares e que existem milhões de brasileiros que não sabem ou sequer tem acesso a esse aprendizado.


3 Fontes para quem gosta de se aprofundar:

1. Full Spectrum Thinking by Bob Johansen (esse livro eu li 😉

2. Thinking in Bets by Annie Duke (confiram o livro também na Amazon);

3. The Creative Generalist by Ashok Krish


Sthéfano Cordeiro é LinkedIn Top Voice 2024 e Coordenador de Transformação Digital no Banco do Brasil. Possui mais de 10 anos de experiência em tecnologias emergentes como Blockchain, Web3, 5G/IoT e IA, dentro setor financeiro.

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