HD #006 – Desconectados De Propósito

Categories: Internet, Redes Sociais, Saúde Mental

Olá!

Seja bem-vindo à sexta edição da Horizonte Digital, onde exploramos as fronteiras da tecnologia e suas implicações na nossa sociedade digital.

Nesta edição vamos explorar o crescente interesse em se desconectar das pressões das tecnologias sempre conectadas. Vivemos em um mundo onde estar online é quase uma exigência, mas será que ainda existe alguma alegria em se desligar? E se, ao invés de temermos o que perdemos (FOMO), encontrarmos a nossa satisfação no que não experienciamos?

Além disso, vamos olhar para o Neo-Ludismo, um movimento que questiona não apenas como usamos a tecnologia, mas também o próprio papel da tecnologia em nossas vidas.


Alegria em Não Participar: Abraçando o JOMO

O conceito de JOMO (Joy of Missing Out) surgiu como um antídoto para o onipresente FOMO (Fear of Missing Out). Em vez de sentir-se ansioso por não participar de eventos sociais ou estar fora do digital, o JOMO celebra a liberdade e a paz que vêm com a desconexão voluntária. Este movimento nos incentiva a valorizar nosso tempo sozinhos e a redescobrir prazeres que não dependem da aprovação ou observação dos outros. Em um mundo onde a conectividade constante pode ser esmagadora, o JOMO nos permite fazer uma pausa, refletir e reconectar com nossos próprios interesses e bem-estar, sem a pressão de estar sempre “ligado”.

Além disso, o JOMO promove um estilo de vida mais consciente e presente, onde a qualidade das experiências supera a quantidade. Ao escolher deliberadamente perder certos eventos ou atualizações de mídia social, as pessoas podem se engajar mais profundamente nas atividades que realmente lhes trazem alegria e satisfação. Isso não só melhora o bem-estar individual, mas também fortalece as relações pessoais reais, tornando as interações mais significativas e menos superficiais. O JOMO nos encoraja a viver de acordo com nossos próprios termos, reduzindo o estresse e aumentando a satisfação pessoal.

Certa vez, nos idos de 2014, meu smartphone estragou e resolvi ficar sem ele por um tempo e peguei um celular antigo. Naquela época já se usava WhatsApp, mas o Facebook ainda era muito presente e as pessoas marcavam aniversários e eventos pelo Facebook.

Uma amiga do nosso grupo de amigos marcou o aniversário dela e convidou via Facebook, durante a semana para o próximo sábado. Obviamente não vi. No domingo encontrei com meus irmãos e eles me perguntaram porque eu não fui na festa. Fiquei triste por não ter visto o convite.

Talvez hoje, dez anos mais tarde, eu não ficasse tão triste. Algumas vezes em que apenas vou à padaria ou resolver alguma questão com minha digníssima, ou não levo o celular ou deixo ele no modo avião. Afinal de contas, quem mais poderia precisar de mim já está ali ao meu lado. Não tenho o porque ficar conectado 24h, não sou médico plantonista.

E se aproveitando desta micro tendência e também o aniversário de 25 anos, a Nokia relançou, na Europa, o Nokia 3120. VEJA AQUI meu post sobre o assunto.

Redescobrindo o Passado: O Ressurgimento do Neo-Ludismo

O Neo-Ludismo é uma resposta contemporânea às crescentes preocupações com o impacto da tecnologia na sociedade. Inspirando-se no Ludismo original do século 19, que criticava a mecanização excessiva na produção industrial, os neo-ludistas de hoje questionam a sabedoria de uma adoção sem críticas e abrangente de novas tecnologias. Eles argumentam que não devemos aceitar todas as inovações tecnológicas como inerentemente boas, e defendem uma avaliação mais crítica de como as tecnologias afetam a qualidade de vida, a privacidade, e a autonomia pessoal. Essa abordagem cautelosa busca um equilíbrio entre o uso benéfico da tecnologia e a preservação de valores humanos essenciais.

O movimento Neo-Ludista não é anti-tecnologia per se, mas sim favorável a uma tecnologia que esteja alinhada com os interesses humanos e ecológicos. Eles promovem a ideia de “tecnologia apropriada” – ferramentas que são diretamente úteis, controláveis pelos indivíduos, e que têm impacto ambiental mínimo.

Ultimamente, todos os meus amigos e conhecidos que vão em feiras e eventos de seus setores comentam que muitas das palestras que assistiram falam da IA Generativa. Eventos de RH, Finanças, Saúde, entre outros, só falaram da IA entre 2023 e 2024.

Já houve alguns abaixo-assinados, especialmente na Europa e Estados Unidos, de entidades de classe e organizações de artistas, atores, jornalistas e até cientistas pedindo uma moratória no desenvolvimento da IA Generativa.

Os neo-ludistas frequentemente se envolvem em ações diretas para chamar a atenção para os perigos da dependência excessiva em tecnologia automatizada e centralizada, como a vigilância massiva ou a obsolescência programada, incentivando um diálogo sobre a necessidade de sistemas tecnológicos que sejam mais inclusivos e controlados coletivamente.

Conclusão

Convido cada um de vocês a pensar sobre como suas interações tecnológicas afetam sua vida e bem-estar. Será que podemos encontrar um equilíbrio mais saudável, que respeite tanto as inovações que a tecnologia nos traz quanto a nossa necessidade inerente de privacidade e autenticidade?

Falei sobre esse assunto na edição 4 desta newsletter, trazendo dicas de como limitar e gerenciar a exposição no mundo digital: HD #004 – Como Sobreviver no Mundo Digital Preservando sua Saúde Mental.


Fontes para Aprender Mais

  1. Minimalismo Digital por Cal Newport – Explora a filosofia de usar a tecnologia com maior intenção e atenção, o que está em sintonia com os princípios do JOMO.
  2. The New Luddites Aren’t Backing Down – Um artigo da “The Atlantic” que discute o movimento Neo-Ludista e suas implicações para a sociedade moderna.
  3. The Art of Invisibility por Kevin Mitnick – Oferece insights sobre como se proteger e manter a privacidade na era digital, uma leitura essencial para aqueles que desejam reduzir sua pegada digital (em inglês).

Sthéfano Cordeiro é LinkedIn Top Voice e Coordenador de Transformação Digital no Banco do Brasil. Possui mais de 10 anos de experiência em tecnologias emergentes como Blockchain, Web3, 5G/IoT e IA, dentro setor financeiro.

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